Tenho orgulho e emoção em iniciar este artigo com a exibição de meu xodó:

Sega Classics Collection é uma seleta de alguns dos títulos de uma série para PS2 cuja fama transpôs as fronteiras japonesas: a coleção Sega Ages 2500.
Sega Ages foi uma série de remakes dos sucessos de fliperama e consoles que badalaram os anos 80 no mundo todo, como Afterburner, Virtua Fighter e Fantasy Zone. Originalmente, a série deveria ter sido lançado para o Sega Saturn, mas devido a alguns problemas com datas (e a decadência do console), o lançamento foi cancelado, ficando meio que “no freezer”. Com a chegada do sucessor do Playstation, os japoneses tiveram a chance de experimentar as “releituras” dos clássicos, a um baixo custo (2500, no título, refere-se ao preço em ienes).
A série recebeu 33 volumes, lançados entre 2003 e 2008, com a maioria das versões sendo de antigos jogos “renovados” pela tecnologia 3D e a remixagem da trilha sonora. Apesar de que algumas versões tenham adquirido certo charme e consistência com a reforma, a maioria foi muito mal recebida pelo público, pela jogabilidade comprometida, visual obsoleto em comparação à renderização atual e pouca inovação.
Com o lançamento de Sega Classics Collection, em Março de 2005, o feliz retro-colecionador pode curtir oito velhos clássicos de fliperama, mais dois de consoles, completamente refeitos para PS2. São eles: Mônaco GP, Fantasy Zone, Space Harrier, Golden Axe, Bonanza Bros. (que inclui um jogo chamado Tant-R), Columns, Virtua Racing, Out Run e Alien Syndrome. Algumas das escolhas poderiam ter sido revistas e substituídas por outros integrantes da Sega Ages, como você poderá ver a seguir, em nossa suave análise, passo a passo:

O remake da versão de arcade ganhou um clima que lembra muito os filmes “Alien” ou “Aliens – O Resgate”: uma infestação alienígena afeta uma colônia espacial (ou nave, ou estação), ao ponto do descontrole, forçando os tripulantes a chamar por ajuda. Chegam Ricky e Mary, dois combatentes bem armados, dispostos a “fazer a limpa”, que inclui exterminar todos os xenomorfos, plantar uma bomba e evacuar o local. A jogabilidade é parecida com a de Smash TV, do SNES, com até dois jogadores, simultaneamente, atirando em adversários pipocando pela tela. Há uma boa variedade de armas à disposição, e a movimentação seguiu as versões anteriores: os personagens podem atirar em todas as direções, bastando girar o analógico. A trilha sonora também vale o destaque, pois o compositor teve o cuidado de gerar um ambiente paranoico e sufocante, exatamente como em narrativas de ficção-científica misturadas com elementos de horror. Combinando todas essas qualidades, em minha opinião, Alien Syndrome ganhou uma boa releitura. Se quiser, compare com a versão antiga:

Virtua Racing
O jogo de corrida poligonal é apresentado da maneira como foi lançado no arcade: os mesmos gráficos, jogabilidade e BGMs. Talvez, a decisão da SEGA em “deixar em paz”, isto é, sem atualizar os gráficos, se deva ao fato de que veterano, em geral, é gente chata pra burro. As árvores com arestas duras, as montanhas que mais parecem papel amassado e a pista feita de vários quadrados continuam do mesmo jeito, apenas com alguns efeitos de luz e sombra aqui e ali, e uns polígonos a mais. Existem duas modalidades de jogo: o modo Arcade, que oferece uma jogabilidade fidelíssima às máquinas, e o Championship, que abre a oportunidade de habilitar outros tipos de carros à medida que se acumulam pontos pelas vitórias.
Dizem que este jogo fez o lançamento valer o custo da mídia…
Columns
O puzzle com as jóias ganhou um ar mais limpo e elaborado, porém, com apenas um modo de jogo extra (vs. CPU) para fazer a diferença. Fato é que, para os fãs de puzzles, este remake, apesar de não aparentar grandes mudanças, tem o mérito de fornecer partidas tão viciantes quanto aquelas de quando jogávamos Mega Drive nos fins de semana da véspera da semana de provas na escola. Os efeitos de remodelagem das jóias e animações elaboradas quando as mesmas desaparecem podem não impressionar, mas, na comparação, o atual mostra serviço. E as músicas continuam mandando a mente para um estado de abstração digno de um mestre Zen…
Bonanza Bros. – Tant R
O jogo de plataforma dos irmãos ladrões foi presenteado com gráficos suavizados, jogabilidade conservada e trilha sonora remixada para o que parecem ser General MIDI. Para quem nunca jogou, em Bonanza Bros., o jogador (ou jogadores) controla um ladrão que tenta roubar jóias, evitando policiais com uma técnica que lembra muito a “furtividade” de Metal Gear: apertando o direcional para cima, o meliante esconde-se em partes do cenário, fazendo com que os tiras passem distraídos pelo gatuno. Já o Tant-R, desconhecido até então, é uma série de jogos tipo puzzle que pode ser jogado com um amigo. Tant-R inclui quebra-cabeças, jogos de raciocínio e o velho “jogo da memória”.
Golden Axe

Para quem acompanhou as primeiras versões de Golden Axe, no arcade, no Mega Drive e no Master System, aqui vai um aviso: respire fundo antes de jogar o remake. As coisas não funcionaram tão bem quanto deveriam. Para começar, os gráficos: os personagens foram remodelados e texturizados de um modo tão rude que lembram muito os primeiros jogos 3D lançados para computadores. A movimentação é dura, de modo que o simples caminhar dos heróis não condiz com o solo sobre o qual estão posicionados. Tal problema é mais perceptível com as famosas montarias: os movimentos dos dragões e do Chicken-Leg (com suas pernas quase embutidas) denunciam um serviço feito de má-vontade, como se tivessem sido os últimos personagens da produção. Os efeitos usados para as magias até que não saíram ruins, mas, quando Tyris Flare utiliza o máximo de seus poderes e invoca o dragão cuspidor de fogo, é possível dar algumas risadas. Os estágios apresentam um efeito meio que “giratório”, dando uma certa sensação de profundidade, mas é só. As fases de bônus, aquelas em que era possível coletar mais potes e encher a vitalidade, foram descartadas. O que sobrou foi uma seqüência de cenas legendadas, SEM VOZ, com os personagens principais mostrando as faces mais inexpressivas da história dos videogames. Alguma coisa de positiva neste jogo? Bem, as músicas foram regravadas, agora, com instrumentos de orquestra, certamente para dar um ar mais de “fantasia-medieval”. Ouça algumas faixas:

O remake ficou bem próximo do original. Para aqueles que já eram fãs do shooter futurista, esta versão pode oferecer algumas boas surpresas. Para começar, os personagens foram bem remodelados, principalmente alguns monstros, como aquele dragão composto de vários segmentos, o qual agora é um modelo único, totalmente redesenhado e de movimentação suave e fluida. Todo o cenário foi refeito, com terreno e objetos texturizados e profundidade atualizada. Cada estágio segue exatamente como no original, com um chefe a ser derrotado após algumas seções e continuando, sem paradas, logo na seqüência. Há alguns novos power-ups, como o escudo e uma bomba de efeito vasto, assim como um tipo diferenciado de tiro. Também é possível selecionar o modo “fractal”, na tela de opções, que substitui o terreno 3D por um tipo de tratamento mais cru, parecido com o jogo original. Finalmente, a trilha sonora foi remixada, com um estilo meio trance, mas sem perder o sentimento ou a beleza das músicas anteriores. Ouça:


Um dos shooters mais fofinhos da SEGA foi muito bem tratado na série, na melhor das hipóteses. Os planos de fundo continuam 2D, mas foram redesenhados em alta resolução, com cores mais vívidas e traços melhores, além da separação de certas camadas, como as árvores que acompanham o andar em níveis distintos das montanhas mais distantes. Os objetos (ou seja, os personagens) são todos feitos em 3D, com a técnica de cell-shading, fazendo tudo ficar muito colorido e bonitinho. Os efeitos sonoros e as músicas, quando não são os mesmos, estão muito próximos dos originais, ao ponto de fazer certos veteranos não conseguirem pontuar as diferenças. O modo Challenge, novo tipo de jogo, permite que novos itens e estágios sejam habilitados através da compra (aqueles famosos créditos), e um modo Gallery que dá a chance de visualizar todos os personagens do jogo. Um acerto, pelo menos para mim, por parte da SEGA.


Não se iluda. Este não é aquele Super Monaco GP, que você jogou no Mega Drive. Este aqui é o pior integrante da seleta Sega Classics Collection. Vamos aos fatos: o jogo original é do início da década de 80, portanto, ele já compunha uma jogabilidade simples e até infantil, dependendo dos critérios: o jogador pilotava um carro de fórmula 1, com o ponto de vista bem acima da pista, como se a observação fosse feita a partir de um helicóptero. O objetivo era disputar uma corrida, tentando vencer o relógio e não bater nos rivais. O remake replicou exatamente essa ideia, especialmente trazendo algumas desvantagens do original. Apesar de que a remodelagem 3D tenha sido boa, com uma certa profundidade em relação aos carros, a coisa fica por aí. A jogabilidade não oferece nada interessante, em comparação aos jogos que foram “renovados”: um novo modo de corrida foi acrescentado, no qual é preciso coletar as estrelas espalhadas pelo circuito, distribuídas ao longo do design das pistas. Se muitas estrelas forem coletadas, a aceleração aumenta, e, se a velocidade máxima for alcançada, alguns combos podem ser feitos, criando uma “aura invencível” ao redor do carro, a qual permite que o jogador colida nos adversários sem sofrer danos e ainda mandando-os pra fora da pista. O truque está em controlar o carro numa velocidade insana, enquanto acumulam-se pontos por colisões. Pode parecer animador, porém, depois de uma partida de 5 minutos, o interesse do jogador foge tão rapidamente quanto o carrinho em questão.
A maioria dos sites especializados em crítica fez análises desfavoráveis ao Sega Classics Collection. O próprio Gamespot concedeu nota 3.2, e outros apenas sugeriram que se evitasse o jogo a qualquer custo. Eu mesmo desgostei de algumas das adaptações, como acabei de mostrar. No entanto, ainda existe um tipo de jogador que insiste em dar uma pequena chance a fiascos do tipo: aquele que sofre da velha nostalgia juvenil, o chamado “saudosismo”, que é sentido por todos os que viveram excelentes momentos no passado, sozinhos ou com amigos e familiares, e que só desejam revisitar esses episódios afetuosos de diversão, perdidos no tempo e no fundo da memória.
É o que nos fazem sentir os clássicos.
22 dezembro, 2011 at 14:06
Cara, belo jogo esse aí, apesar dos pesares.
23 dezembro, 2011 at 23:51
As musicas de Columns foram refeitas? Será q tinha como disponibilizar? 🙂
24 dezembro, 2011 at 0:59
Sim, as BGMS de Columns sofreram remixagem. Aguarde, em breve, postarei-as em meu Skydrive para ti.
11 fevereiro, 2012 at 21:45
Cara, bem legal o post.
Demorei uma eternidade para ler, queria ver com calma pois desconhecia o título (embora soubesse dos Sega Ages 2500) e precisava saber o quão interessante ele poderia se tornar para mim, já que sou fã dos jogos clássicos da SEGA.
A conclusão é que preciso testar a coletânea algum dia. Só o fato das músicas remixadas serem legais já anima bastante, vou ver se dou a sorte de encontrar o jogo no ML e colocar na coleção aqui.
Uma pena que não lançaram os Phantasy Star em inglês, mas paciência. Quem sabe um dia?
Abraços
11 fevereiro, 2012 at 23:13
Oi! Obrigado pelo contato!
Fico feliz em saber que o artigo serviu de base para a pesquisa, principalmente em se tratando de outro veterano do gênero. Acho que, no teu caso, você ficará muito satisfeito em adquirir o jogo, pois só o valor sentimental já compensa o gasto.
Pelo menos, até hoje, em meio a tantos jogos estupidamente bem elaborados, Sega Classics Collection ainda ocupa uns minutos em minha rotina sufocante.
Inté!