Deadlock – PC

Assim que comprei meu primeiro computador, um 486 pra lá de teimoso, no final de 1998, passei por uma fase bastante antissocial.
Resolvi experimentar todos aqueles games antigos dos quais eu só tinha o testemunho, por meio de revistas do gênero ou das visitas esporádicas a alguns poucos (e felizes) amigos. Alienei-me como nunca, buscando títulos como Warcraft I e IIEye of the Beholder (as três versões), Shadow CasterMight and MagicDark SeedCobra Mission

Mas um desses games realmente conseguiu marcar minhas tardes diárias. Eu o adquiri numa banca de jornal, numa antiga coleção chamada “Games do Estadão”, do jornal O Estado de São Paulo. O jogo chamava-se Deadlock: Conquista Planetária.

Apesar de ter sido obliterado pela mídia e largado aos recessos do desconhecimento, Deadlock arrebanhou uns poucos fãs na época. Produzido em 1996 pela extinta Accolade sob o título Deadlock: Planetary Conquest, o jogo foi classificado como “estratégia baseada em turnos”. O jogador deveria escolher uma entre sete raças que disputam o controle de um planeta, fazendo uso de diversos recursos, como desenvolver tecnologias, produzir armamentos e cultura e, por conseguinte, dominar territórios.

A história por trás dos eventos é a seguinte: expedições enviadas pelos governos de várias raças encontraram um planeta habitável, batizado de Gallius IV, orbitando uma estrela nos confins do universo. Todas as raças participantes da expedição manifestaram interesse pela colonização, porém, para evitar uma “guerra intergalática” (e uma destruição massiva do planeta em questão), um tratado foi assinado entre os envolvidos para regulamentar a colonização. O documento, chamado de Compacto de Gallius IV, previa as seguintes regras: cada raça enviaria quinhentos colonizadores com armamento leve ao planeta, que trabalhariam arduamente para desenvolver uma colônia. Cada colônia era livre para produzir seus próprios recursos. A colônia que ocupasse mais territórios ou que derrotasse, através de combates, todas as outras, poderia reclamar Gallius IV para seus líderes, homologando a posse do planeta para a raça em questão.racesdeadlock

As sete raças jogáveis são: 

ChCh-t
Insectóides que parecem uma cruzamento entre formigas e escorpiões. São uma raça de mentalidade coletiva, isto é, desprovidos de individualidade. Produzem colonizadores e unidades militares rapidamente, embora que seu poderio bélico seja fraco e o consumo de recursos como comida e madeira seja abusivamente alto.
Cyth
Taxados como os “vilões” do jogo, os Cyth lembram vagamente um Illithid, uma raça do velho RPG Advanced Dungeons & Dragons. Cada indivíduo Cyth dispõe de perigosas (e potentes) habilidades psíquicas, ao ponto de levitarem a alguns centímetros do chão, por acharem que o ato de andar é “não-civilizado”. Suas unidades militares podem usar psiquismo para destruir as mentes dos inimigos e seus batedores podem envenenar a comida dos colonos adversários. Porém, nunca dispõem do total de sua força de trabalho.
Maug
Uma raça de ciborgues com facilidades em lidar com tecnologia e equipamentos. Após deixarem seu planeta natal, o metabolismo da raça enfraqueceu bastante, repercutindo em indivíduos sempre resfriados ou febris. Suas unidades podem sabotar equipamento adversário, assim como roubar tecnologia alheia. No entanto, o Moral dos colonizadores é bem sensível às mudanças.
Tarth
Conhecidos pelo temperamento esquentado, os Tarth são uma raça forte e grande, com seus corpos rijos como placas de escamas. São lerdos para a produção de unidades, porém, eles são o que chamamos de “duros-na-queda”. Seus fazendeiros produzem comida em larga escala. Seus espiões, no entanto, são péssimos (dá pra ver de longe o 007 cabeça-de-bulldogue)!!
Humanos
Ah, nossos queridos humanos. No jogo, é a raça que mais gera lucros através dos impostos, mas são mais suscetíveis aos escândalos com o mercado negro (veja a seguir). Uma de suas unidades especiais pode usar o modo Berserk, que multiplica o poder das outras unidades em campo, mas com o sacrifício do líder da tropa.
Re’lu
Avançados cultural e intelectualmente, os humanoides esverdeados também possuem poderes psíquicos. Podem visualizar todo o mapa do planeta e suas unidades especiais podem dominar as mentes dos adversários. Mas são uns fracotes no poderio militar.
Uva Mosk
A raça mais estranha. Uma mistura de borboletas com tamanduás, os Uva Mosk vivem numa espécie de “cultura xamanística”, supervalorizando a natureza e respeitando seus recursos. Produzem comida em larga escala, mas todos os outros recursos levam mais tempo com eles (afinal de contas, eles odeiam “espoliar a terra”). Seus colonos pagam bem menos impostos que as outras raças.
Há, ainda, duas raças que não são jogáveis, mas que influenciam a história, de certa forma:
Skirineen
Foram expulsos do Compacto de Gallius IV pela fama de pirataria. Apenas um destacamento Skirineen orbita o planeta, oferecendo recursos por meio de contrabando aos colonizadores que estiverem dispostos a pagar. Mas existe um risco: se os outros membros da colônia descobrirem a transação, haverá escândalo popular e o Moral reduzirá, repercutindo em greve e queda na produção.
Tolnan
Uma raça quase dizimada num conflito com os Skirineen. Só um membro da raça orbita Gallius IV, oferecendo conselhos aos colonizadores (isto é, para ser o tutorial do jogo!).
O jogo oferecia a possibilidade de se disputar online, embora que, na época, a Internet ainda era discada, então não tive como conferir a jogablidade via modem. Aliás, até tentei, mas a conexão não dava certo!
Na época, a perspectiva isométrica ainda era comum em jogos do tipo, isso não afetou em nada a diversão. Mesmo hoje, certos jogos isométricos guardam lugar na área de trabalho de muito veterano. A modelagem dos personagens e os vídeos também possuem um charme próprio.
A trilha sonora, apesar da criatividade da composição, não recebeu o devido tratamento técnico: as músicas tocavam numa qualidade por volta dos 11025 Hz, mono, 8 bits. Na época, a maioria dos jogos já oferecia um acabamento sonoro bem mais cuidadoso.
Guardo até hoje meu exemplar do jogo, que, infelizmente, restringe-se a juntar poeira, apenas. Apesar de que o CD de instalação esteja em perfeitas condições, o jogo não funciona nos sistemas operacionais modernos. O XP e o Vista, de algum modo, não conseguem executá-lo com exatidão: o som não funciona, certos vídeos travam, a jogabilidade fica lenta etc. Ainda não tentei instalar Deadlock através de alguma emulação virtual, como a do Virtual Box, mas provavelmente não haverá perfeição de funcionamento. Talvez os periféricos atuais sejam um tanto incompatíveiscom os requisitos de aplicativos antigos.
Uma curiosidade: o CD do Deadlock continha um Easter Egg. Um dos programadores, chamado Paul Kwinn, teve a pachorra de compor uma canção dedicada à jogabilidade com muito humor. Paul ainda fez questão de cantar e tocar sua música, chamada DEADSONG, gravando-a em formato WAV como um brinde aos fãs. Aí vai a letra:
Deadsong
“Son, be a colonist”, is what Dad said to me
“It’s a cushy life, and you’ll get alien real esate for free”
So I talked to the recruiter, to see if this was so
He smiled at me… the nicest smile… and said “Kid, don’t you know?”A colonist’s job is easy, a colonist’s wage is high
A colonist’s pension plan would make a civil servant cry
There’s never any danger, there’s always lots of fun
And as for job security, it’s better than a nun’s[spoken:] Kid, I’d like you to meet somebody. His OFFICIAL title is
“Commander”, but I’d like you to think of him as more of a Social
Coordinator.[Refrão:]
If I ever get back home again
If I ever get back home again
If I ever get back home again
That recruiter’s gonna die.[spoken:] I’m here to tell you folks: it wasn’t QUITE like he said…Some say the Cyth are evil, they say they’re misunderstood
“If you’d just do things our way, it would serve the greater good”
They seek to reach a higher place, a new enlightened mode
Meanwhile if you get in their way, your brain just might explode

The Re-lu seem to think they simply cannot be outclassed
They’re so urbane, that less cultured folk
[spoken:] (like, say, the Queen of England…)
…seem barbaric by contrast
Their access privelege to your brain includes both read and write
They turn your units into theirs and no one’s left to fight

[spoken:] “Bob! Bob! What’s wrong?!”
“I dunno Jim… they just seem like such nice fellas…”

[Refrão]

Ch’ch-t need new worlds to expand, more than the others do
For like their cockroach cousins, there’s never just one or two
They multiply like vermin, make tireless labor crews
And carry off your resources like ants at picnics do

The Maug are weak and sickly and their horns are mostly fake
The Cyth took their home planet, more poisons for to make
But for such whining wheezers they’re an engineering bunch
Give them a rock, and they’ll invent the warp drive before lunch

[Refrão]

The Uva Mosk think that they’re Mother Nature’s strong right arm
And they are more than willing to blast those who’d do her harm
Their camoflaging units will pop up behind your lines
So you’d better “Give a hoot”, ‘cause you won’t like their littering fines.

The Tarth are big, the Tarth are tough, the Tarth will cause you pains
They’re not too bright, but when you can head-butt buildings, who needs brains?
They make the greatest farmers, but as spies they suck, you see
They try to hide their 6-foot width behind a 1-foot tree.

[spoken:] This is KGAL, your News and Information Station on Gallius 4.
Here with a correction to last week’s editorial reply is noted public figure: The Ubergeneral:
“Tarth cooks make best streudel. That’s all. Just streudel.”

Add to that the Skirineen, who’d sell their Mothers’ eyes
And you can see why I might not think this job is a prize
So if I manage to survive, I’m going back to Earth
But I think I’ll keep my laser gun… just for sentimental worth.

[Refrão]

Finalizando, Deadlock: Planetary Conquest foi um ótimo representante dos jogos do final dos anos 90. O título ganhou uma continuação, chamada Deadlock 2: Shrine Wars, mas a resenha fica para outra ocasião. Até a próxima!
ATUALIZADO EM 12/02/2016:
Deadlock foi lançado na loja do STEAM, a um preço bem acessível, aqui: Deadlock no Steam.
Para aqueles que jogaram e que estão saudosos desta mídia, aí vão alguns arquivos interessantes que vinham no CD de Deadlock da série “Games do Estadão”.
Primeiro, arquivos de texto explicativos, em português e inglês, sobre o jogo – um deles é o guia, contendo todo o histórico sobre a origem das raças de Deadlock e sobre como se desenrolou a diplomacia do pacto que fizeram (é excelente para quem gosta de adaptar jogos de PC para RPGs…). O guia também explica todas as tecnologias do jogo. Aí está:
GUIA DEADLOCK PT BR – formato PDF
GUIA DEADLOCK PT BR – formato DOCX
GUIDE – PDF em inglês
Aqui vai o manual do jogo, em duas versões:
MANUAL – PDF em inglês
Manual Deadlock – PDF em português.
E, finalmente, para quem gosta de curtir músicas de fundo de jogos em geral (ou, background music – bgm), aí vão as músicas de fundo de cada raça do jogo, aquelas trilhas sonoras de ambiente, incluindo as músicas das cenas de combate e da apresentação do jogo. Extraí do gameplay, fiz o possível para remover ruídos e converter os sons para mp3 e fiz o upload para uma pasta do Onedrive. A música “DEADSONG”, cantada por um dos produtores do jogo, também está inclusa. Divirta-se:
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Sobre Rodrigo Bazílio

Apenas um professor de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio, com o hábito quase vicioso de aliviar o estresse com jogos eletrônicos, música, leitura, RPGs e com a arte de pintar miniaturas. Ver todos os artigos de Rodrigo Bazílio

5 respostas para “Deadlock – PC

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