Quem nasceu por volta da década de 1980 e esteve antenado foi agraciado com uma sequência de animações japonesas praticamente pioneiras no Brasil, haja visto a pouca frequência desse tipo de produção em nosso país na época. Astroboy, Super Dínamo, Doraemon e, anos depois, Robotech e Zillion me encantaram quando era garoto. É sobre um personagem do último da lista que tratarei hoje.
Zillion (Akai Koudan Zillion no original) foi um anime feito para potencializar as vendas do console da SEGA, o Mark-III (batizado no Brasil como Master System), e de sua pistola de luz, chamada “Light Phaser”. A animação foi encomendada à produtora Tatsunoko pela SEGA. Tanto é que, no desenho, as pistolas utilizadas possuem o mesmo design do periférico do console na vida real. Mas isso tudo é apenas para dar contexto ao artigo.
O vilão de hoje chama-se Barão Ricks, e é o comandante/general das forças militares do império Noza, as quais possuem o objetivo de invadir e dominar o planeta Maris para estabelecer uma colônia e, por conseguinte, uma nova civilização. No entanto, a raça humana era um obstáculo, posto que já usava o planeta em questão como moradia há milênios. E assim tem início uma guerra que manteve o assunto da animação.
Barão Ricks é um indivíduo que se destaca entre os membros de sua raça não apenas em sua aparência exótica: bem mais poderoso que qualquer Noza, ele é mais robusto, resistente e inteligente que muitos notáveis de sua espécie. Também dispõe de uma destreza e agilidade incríveis, talentos que o permitem se esquivar facilmente dos disparos da pistola Zillion, tornando-o um oponente quase insuperável em confronto direto. Por vezes, os membros da equipe de elite White Knight passaram sufoco para escapar de sua habilidade implacável, assim como de sua espada característica, capaz de se transformar em um chicote letal.
No entanto, Ricks é um algoz complexo e foge à regra – o arquétipo do vilão submisso, acéfalo e sanguinolento não lhe serve adequadamente, por diversas razões: assim que toma conhecimento da força White Knight, acaba por criar uma inimizade quase obsessiva com um de seus membros, o irresponsável J.J., ao ponto de mudar seu foco na ocupação do planeta Maris. A partir de um certo confronto episódico em que perde um de seus chifres, Ricks passa a tratar J.J. como um inimigo jurado, travando uma luta pessoal em que ressente-se profundamente de ter sido quase derrotado pelo jovem herói de guerra.
A aversão e “malquerença” de Ricks em relação ao jovem humano atingem um nível em que passa a discordar das ordens da própria rainha Adamis, autoridade máxima do império Noza. A cruzada pessoal de Ricks para se vingar de J.J. cria situações e cenas que são épicas para quem se lembra da animação: Ricks entra em conflito com seus semelhantes, combatendo alguns soldados Noza e até pelejando contra a força de elite Cyber-Metal, designada especificamente para suplantar os White Knights.
Em meio a toda essa intriga, em determinado momento, Ricks é afligido por problemas naturais de seu organismo e seu fim é espetacular: ele simplesmente morre virando cinzas bem no meio de uma batalha, que é o destino final de cada membro da espécie Noza quando a idade avança ao ponto limite. Numa cena forte, com Ricks desfazendo-se, o jovem herói J.J. reconhece a nobreza e valor de seu arqui-inimigo, prestando-lhe sincero respeito ao seu leito de morte em campo de batalha. Uma cena que marcou a muitos e posicionou o grande Barão Ricks no patamar dos grandes vilões da ficção.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zillion
http://forum-d10.vampire-legend.net/t142-2010-ano-de-ricks
http://en.wikipedia.org/wiki/Zillion_(anime)
http://apanaceiaessencial.blogspot.com.br/2008/09/zillion.html
http://www.estatuaslimitededition.com/t9172-barao-ricks-akai-koudan-zillion-pintura-quase-terminada
Atualização:
Para prestar mais uma homenagem ao saudoso Barão, Marcelo Cassaro joga na mesa suas considerações:
Tirado daqui:
E, antes que eu me esqueça, aí vão mais algumas considerações:
– O Barão Ricks não usa poderes espetaculosos, porque é coisa de frutinha.
– O Barão Ricks nunca fez coreografias afrescalhadas em combate, porque é coisa de frutinha também.
– Assim como nunca gritou os nomes de seus golpes, porque é outra coisa de frutinha.
– E, para concluir, o Barão Ricks nunca soltou raios pelos olhos, como alguns que adoram queimar os oponentes. (Olhar de inveja, mona?)
16 março, 2013 at 20:20
O dublador era o Seu Barriga XD. Sério, é um dos vilões mais fodões que já vi. Fiquei triste pra caralho quando ele morreu. E o respeito que o J.J presta à ele depois é uma parada que me lembra Simon Belmont com o Drácula e Castlevania. Na verdade, uma situação lembra a outra!
16 março, 2013 at 20:36
Um vilão completo, como diriam alguns! Na verdade, Ricks é o que chamamos, nas aulas de literatura, de “personagem redonda”: ele não se fixa numa composição imutável e definitiva, ele é sensível às alterações provocadas pela narrativa e, consequentemente, redefine suas convicções, traços de comportamento ou até personalidade em virtude do desenrolar da trama.
E é esse tipo de personagem que costuma se destacar mais nas obras de ficção.
Obrigado!
17 março, 2013 at 20:18
O Barão Ricks é um dos meus vilões favoritos, realmente a cena de morte dele com todo o respeito do JJ foi algo muito memorável. Aliás, Zillion é um anime incrível, uma pena que teve o final daquele jeito sem sentido por causa daquela conhecida briga da SEGA com a Tatsunoko. Uma pena mesmo.
Texto muito bom!
9 abril, 2013 at 22:06
Caduco! Vc por aqui? He,he! Muito legal esse desenho. Passei a sentir muita inveja de um amigo quando ele me disse ter visto o ultimo episódio na Globo, de 5hs da manhã, no primeiro dia do ano novo de mil, novecentos e antigamente (não lembro a data exata). Valeu!
28 março, 2014 at 20:05
Sério …acho que houve um episódio que rolou uma “química” entre Ricks e Apple ( membro dos White Knight ).
16 maio, 2015 at 22:02
Eu nasci em 1976 e vi vários tipos de animes e consequentemente, vi toda categoria de vilões e arqui – inimigos e até hj não conheço personagem que supere o Barão Ricks, Pois na verdade, ele não é o típico vilão do mal que segue uma cartilha da maldade e toda aquela babaquice, ele é a essência do guerreiro autêntico, ou seja, aquele que segue seu próprio caminho no fio da navalha, fiel ao seu espírito sem se importar em mudar o próprio rumo de sua vida.