Para aqueles que não são veteranos do RPG, mais precisamente do famigerado sistema D20, cuja elaboração surgiu na década de 1970 com as primeiras edições do antigo Dungeons and Dragons, este artigo pode ser interessante.
Como muitos podem saber, o sistema de jogo que consagrou o D&D e o AD&D é desprovido de regras pormenorizadas que definam a personalidade de um personagem: os recursos que o jogador dispõe para constituir o “perfil psicológico” de seu player character não é definido pelo seu Alinhamento (o qual apenas limita-se à ética e ao moral), e sim apenas esboçado por linhas gerais, escritas pelo próprio jogador, com base em certas características, apresentadas por alguns números. Esses números são aqueles que indicam três de seus atributos: Inteligência, Sabedoria e Carisma. Os dois primeiros, acima de tudo, têm mais peso para indicar a capacidade de raciocínio e julgamento do personagem. O terceiro, por sua vez, restringe-se ao aspecto de “sociabilidade” e, em certo ponto de vista, indica algo sobre sua aparência.
Geralmente, jogadores novatos não conseguem visualizar bem as nuances de personalidade que um personagem pode ter de acordo com as diferenças entre a Inteligência e a Sabedoria, e muito menos sabem definir o que o Carisma pode ter a ver com os dois. Na verdade, muitos veteranos também ignoram essas nuances!
Posso estar enganado, mas o nível de Inteligência de uma pessoa pode dizer muito sobre seu jeito de tentar resolver certos problemas, e o valor de sua Sabedoria pode indicar muito sobre o modo como percebe o mundo. Já o Carisma diz sobre como alguém lida com situações sociais. Ou seja: os três atributos englobam traços importantes, talvez grande parte, da personalidade de um indivíduo. Para exemplificar o que estou dizendo, achei uma fonte valiosa, que pode servir muito bem até para aqueles que jogam o Old Dragon, da RedBox.
O seguinte texto foi extraído do livro Star Wars RPG, SAGA edition, lançado em 2007 pela Wizards of the Coast. O jogo utiliza o sistema de regras d20, em licença aberta, para que os jogadores possam ambientar partidas no universo de Star Wars, vivenciando suas aventuras e seus personagens heróis, vilões ou anti-heróis. Um ponto que achei muito válido e útil do livro foi justamente o esclarecimento a seguir, sobre esses três atributos, muitas vezes ignorados no instante de interpretar o personagem de jogo:
“Um personagem com um valor de Inteligência alto é curioso, versado e tende a ter um vocabulário rebuscado. Já um que tenha Inteligência alta e Sabedoria baixa pode ser esperto, mas vive no seu próprio mundo, ou pode ser culto, porém não possui muito bom-senso. Um com Inteligência alta e Carisma baixo pode ser um sabe-tudo arrogante ou um acadêmico recluso. Aquele cuja Inteligência é alta e tem baixos valores em Sabedoria e Carisma normalmente fala a coisa errada na hora errada e não raramente cria situações embaraçosas.
Um personagem com Inteligência baixa usa palavras de forma errada além de errar a pronúncia de muitas delas, tem problemas em seguir direções ou não consegue entender uma piada.
O personagem cuja Sabedoria é alta é bem consciente, sereno, antenado, alerta ou centrado. Se ele possui uma Sabedoria alta e Inteligência baixa ele continua sendo um observador atento, porém simplório. Um com Sabedoria alta e Carisma baixo sabe o suficiente pra falar cuidadosamente e pode se tornar um conselheiro ou o “poder por trás do trono”, mas dificilmente um líder.
Um personagem com baixa Sabedoria pode ser rude, imprudente, irresponsável ou simplesmente estar por fora de tudo que acontece. Ou tudo isso junto.
Já o personagem que tem um Carisma elevado pode ser belo, atraente, destaca-se entre os demais, elegante e confiante. Se possuir Carisma elevado e Inteligência baixa pode se passar por alguém letrado, até que encontre quem realmente conheça do assunto. Enquanto que o personagem carismático de baixa Sabedoria costuma ser popular, mas raramente discerne quem são seus verdadeiros amigos.
Um personagem com Carisma baixo é reservado, melancólico, grosseiro, bajulador ou simplesmente medíocre.”
Fonte: Star Wars RPG, edição Saga. Wizards of the Coast, 2007.
4 abril, 2013 at 16:26
Lembro que a Constituição diz um bocado sobre a aparência de um personagem tb. Um personagem com alta Constituição e Carisma pode ser um príncipe charmoso e que consegue se dar bem com as pessoas. Já um personagem com baixa Constituição e alto Carisma pode ser alguém feio, franzino, repleto de cicatrizes e marcas de nascença, mas ainda assim capaz de fazer pessoas o seguirem e cativá-las. Exemplos clássicos são o Shishio de Samurai X e generais de nosso próprio mundo, como Hitler.
Pena que o único jogo de computador que usou bem estes três atributos foi Planescape, porque eles são interessantíssimos ^^
4 abril, 2013 at 17:45
Exatamente! Basta pensar um pouquinho sobre os valores dos Atributos, que o jogador pode dar cor e criar traços únicos para sua personagem. Isso também pode incluir os valores de Força e Destreza, aproveitando a deixa de seu argumento. Por exemplo, um indivíduo com Destreza muito baixa pode ser tanto um desastrado total quanto alguém que sofreu um aleijão e vive mancando. Ou alguém com valor baixo em Força pode ser um preguiçoso inveterado, que sempre fugiu de exercícios na juventude. As possibilidades são muitas, sim?
Bom ter citado o Planescape. Desenterrou, hein?
4 abril, 2013 at 23:27
Hahahaha, verdade 🙂 Nunca tinha pensado em aleijados com destreza baixa. Muito interessante!
A liberdade é tão grande que é uma pena que a maioria se atrele aos padrões de aventureiros limpinhos perfeitinhos.
Um problema neste sistema são os jogadores limando pontos nos atributos que não são de combate e interpretando gênios lindos e sábios ¬¬
5 abril, 2013 at 17:53
É mesmo, o sistema do Dungeons and Dragons sempre ofereceu esses problemas… fora o fato de que todo mundo sempre quer jogar os valores baixos em Carisma e Sabedoria, os Atributos menos focados no combate, em certo ponto de vista. Acho que o Mestre/Narrador tem que olhar isso na construção, orientar melhor os jogadores para evitar essas marmeladas. A menos que o objetivo da aventura seja uma busca padrão em uma Dungeon, como eram aquelas velhas partidas na década de 70/80.
Acho que foi por esses problemas no sistema d20 que minha turminha da década de 1990 só jogava GURPS. É muito mais fácil elaborar a personalidade de uma personagem no GURPS, só o conjunto de Desvantagens escolhidas e das Peculiaridades definidas já dava uma ideia bem clara e específica do que seria o tal perfil psicológico do player character.
6 abril, 2013 at 12:24
Tudo bom Rodrigo?
Meu nome é Allan Biffi e sou um grande fã e jogador de RPG e afins. Há muito tempo venho notando a carência desse tema no Brasil e, por este motivo, tenho planos de abrir uma empresa especializada em acessórios de RPG.
Ainda estou na fase de estudo de mercado e, como eu sei que você é uma referência do tema no Brasil, gostaria de fazer algumas perguntas. Se puder me ajudar serei imensamente grato.
• Com que idade você foi introduzido ao mundo do RPG?
• Quem te apresentou os jogos?
• Qual foi o primeiro jogo que você jogou?
• Atualmente você ainda joga? Com qual frequência?
• Qual o seu sistema favorito?
• Quais acessórios de RPG você utilizada na hora de um jogo? (Dados, miniaturas, escudos, fichas, tabuleiros etc)
• Dos acessórios que você utiliza, há algum que você gostaria de ter mais opções aqui no Brasil?
Muito Obrigado
6 abril, 2013 at 12:29
Bem, responderei ao teu questionário por email, ok?
Obrigado pela visita!